Foi lançada na Assembleia Legislativa a Frente Parlamentar em Defesa dos Brigadianos de Nível Médio, por proposição da deputada Luciana Genro (PSOL). O entendimento é que os policiais militares, devido à estrutura da corporação, têm dificuldades em poder expor suas denúncias de forma pública. Muitos fatos vividos pelos policiais, somados, resultam em suicídio.
Durante o evento de lançamento da Frente, policiais da reserva e advogados denunciaram casos, e Luciana Genro conta que também vem recebendo diversas denúncias de forma anônima – desde a legislatura ada até os dias de hoje, a deputada já enviou 84 ofícios ao Comando-Geral da BM referente às denúncias que recebeu dos praças. Esses relatos foram compilados em um dossiê elaborado pelo mandato da deputada e apresentado durante o lançamento.
Ao longo dos últimos anos, Luciana Genro vem dialogando com os brigadianos de nível médio, recebendo relatos via WhatsApp, Instagram, Facebook e em reuniões presenciais. “Eu iniciei esse contato quando o governo enviou o projeto de lei que alterou as carreiras, incluindo as dos BMs. Dificultaram ainda mais as possibilidades de melhoria nas condições salariais. Os capitães ganharam um reajuste bastante substancial, mas os de nível médio foram penalizados, assim como o conjunto de servidores que perderam conquistas”, afirmou a deputada.
Um dos aspectos mais destacados no dossiê e no evento é o alto índice de suicídios e adoecimento mental dos brigadianos de nível médio. “Já tivemos cinco policiais que cometeram suicídio nesses primeiros meses de 2023. Sabemos que o adoecimento mental tem múltiplas causas, mas com certeza há causas dentro da carreira que contribuem enormemente para essa situação tão dramática”, avalia Luciana Genro. Dados da própria Brigada Militar demonstram que foram 49 suicídios de 2018 até 28 de fevereiro de 2023 – mais da metade de todas as mortes de brigadianos no mesmo período.
O suicídio também foi a principal causa de morte de policiais militares no Rio Grande do Sul em 4 dos últimos 5 anos – o único ano que o número de mortes em confronto superou o de suicídios foi em 2019. E somente nos três primeiros meses de 2023, mais de cinco suicídios já foram notificados. Além disso, de acordo com dados do 1º Censo da Brigada Militar, o uso de medicamentos para doenças psiquiátricas/psicológicas é o segundo principal, considerando os servidores que utilizam alguma medicação de forma contínua, ficando atrás somente daqueles para pressão alta/cardíacos.
Representando a ABAMF – Associação que representa os Praças – Potiguara Galvam relatou que a Associação está criando um canal de comunicação com os colegas para que procurem ajuda. “Vamos criar um conselho de representação, em que um brigadiano de cada batalhão irá nos ar o que está ocorrendo, para que possamos buscar soluções o quanto antes”, afirmou
Relatos de brigadianos
O policial da reserva Ederson Oliveira Rodrigues, da União dos Praças da Brigada Militar e Bombeiros Militares, deu um depoimento emocionado sobre as perseguições que sofreu na corporação. Ele atualmente está afastado e não pretende retornar à BM. “Estar na Brigada sempre foi um sonho pra mim, mas acabou virando um pesadelo”, contou.
Os problemas começaram em 2017, ao ser convocado pelo Ministério Público a testemunhar contra um coronel. Ederson ou a sofrer perseguições dentro do batalhão onde trabalhava, em Pelotas. “Chegou ao ponto em que eu fui trocado de companhia e colocado no presídio como forma de castigo. Eu me lembro que eu estava sentado na guarita e pensei em tirar minha vida. Decidi consultar com um psiquiatra. Quando a gente se afasta, é visto como um mau policial. Eu preferi sair, me afastar, do que continuar naquele ambiente, continuar ando por aquilo”, narrou.
Fonte: Agora No Valle