O Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul (CBMRS), com seus 128 anos de história, celebra um marco importante: pela primeira vez, um soldado trans integra o efetivo da corporação. Theo, antes conhecido como Bruna, é o primeiro homem trans a fazer parte do corpo de bombeiros. Hoje, ele carrega orgulhosamente o nome Theo em sua farda, refletindo sua identidade de gênero escolhida.
A transição de gênero de Theo e sua formatura como bombeiro ocorreram há pouco tempo. A mudança foi realizada cerca de três meses atrás, e a solenidade de formatura aconteceu em 16 de junho deste ano. Para Theo, ter seu nome masculino exibido no sutache, uma tarjeta fixada sobre o bolso do uniforme que identifica o militar, era um sonho que se tornou realidade.
“É a realização de um sonho. É como me identifico e como sempre desejei ser chamado desde criança. Era o sonho de todos os meus amigos ver o nome com o qual me identifico na minha farda, no meu peito. É muito mais do que eu esperava. É maravilhoso para mim”, descreveu Theo.
Com 24 anos, o bombeiro realizou a alteração de nome e gênero em seu registro civil. Bruna Hevia Caravaca, de sexo feminino, deixou de existir nos documentos públicos, dando lugar oficialmente a Theo Hevia Caravaca, de sexo masculino, com sua nova identidade prontamente reconhecida pelo CBMRS.
Theo ingressou no Corpo de Bombeiros no ano ado, após ser aprovado em um concurso público. No início de sua jornada na instituição, ele ainda era registrado como Bruna. Durante o curso de formação, que durou quase 11 meses, Theo se apresentou como uma aluna do sexo feminino, apesar de desejar que a situação fosse diferente.
“Desde criança, já me sentia muito desconfortável com os padrões considerados femininos. Quando entrei para o Corpo de Bombeiros, já me identificava como Theo e me via no gênero masculino, mas, por medo, decidi ingressar com o nome e sexo femininos, pois ainda não havia retificado meus documentos. Era como se eu estivesse vivendo uma vida dupla. Aqui dentro, me conheciam como Bruna. Lá fora, minha mãe e meus amigos já me chamavam de Theo. Isso estava me afetando muito”, relatou o soldado.
Durante o curso de formação, em uma conversa com a capitã Paula da Fontoura Acosta, comandante da Academia de Bombeiro Militar (ABM), Theo expressou seu desejo de ar pela transição de gênero, e a pretensão foi acolhida de maneira positiva pela corporação.
“Um dia, ela me chamou para conversar e perguntou como eu me identificava. Eu não esperava isso. Fiquei muito feliz e acolhido, porque ela demonstrou interesse em saber para que eu me sentisse confortável em meu ambiente de trabalho. Foi então que percebi que posso ser quem sou aqui dentro, mesmo em um ambiente militar. Foi aí que decidi seguir em frente com o processo de transição”, contou.
Após a conversa com a capitã Paula, que mostrou sensibilidade e empatia, Theo sentiu-se pronto e confortável para dar início aos trâmites de sua transição. Ele atualizou seu registro civil, recebeu sua nova identidade e teve seus documentos retificados pelo Corpo de Bombeiros Militar. Além disso, recebeu apoio em saúde mental no Hospital da Brigada Militar.
“Reuni todos os documentos necessários para levar ao cartório. Assim que consegui fazer a alteração, entreguei a documentação aos meus superiores para lidar com a parte burocrática”, explicou Theo.
Dentro do quartel, também houve mudanças, como a transferência do alojamento feminino para o masculino. “Desde meus colegas até os praças e oficiais do Corpo de Bombeiros, recebi muito apoio e acolhimento de todos. Nunca sofri qualquer tipo de preconceito. Isso me surpreendeu bastante. Foi um processo muito tranquilo e acolhedor, tanto que me sinto em casa quando chego aqui”, enfatizou.
Natural de Porto Alegre e estudante de Direito, Theo está extremamente feliz com essa nova fase de sua vida. Ele celebra o relacionamento amistoso com seus colegas do CBMRS e faz planos para o futuro. Embora ainda não saiba em qual setor será designado, Theo trabalhará em Porto Alegre e está ansioso para servir à comunidade.
“Sempre tive vontade de estar em um ambiente militar, de ser militar. Após a transição, sinto-me muito mais feliz e preparado para servir à sociedade gaúcha. O Corpo de Bombeiros é sobre salvar e proteger. Portanto, estando bem comigo mesmo, amando quem sou, posso dar o meu melhor aqui, que é o que a sociedade gaúcha merece”, enfatizou.
A formatura de Theo foi marcada por outro motivo especial: ocorreu na manhã de 16 de junho, após a agem de um ciclone extratropical que atingiu o Rio Grande do Sul na noite do dia 15. Logo após a cerimônia, os bombeiros recém-formados foram enviados para várias cidades gaúchas para auxiliar nas missões de busca e salvamento. Theo foi um deles e foi designado para atuar em cidades como São Leopoldo, Montenegro e Novo Hamburgo.
Theo agora utiliza uniformes masculinos e iniciou o tratamento hormonal. Ele não realizou nenhuma intervenção cirúrgica para alterar suas características biológicas. Ele cumpriu todos os requisitos do curso de formação, incluindo provas teóricas e práticas. Além disso, tem planos de realizar uma nova bateria de testes físicos, desta vez de acordo com sua identidade de gênero.
Neste 28 de junho, Dia do Orgulho LGBTQIAPN+, o comandante-geral do CBMRS, coronel Eduardo Estêvam Camargo Rodrigues, ressaltou a importância de respeitar as diferenças e a diversidade de gênero.
“O Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul é composto por pessoas vocacionadas, que respeitamos em suas individualidades, sem distinção. Exigimos apenas, como profissionais excelentes que são, um alto nível técnico de preparação para fornecer um serviço público relevante: proteger a vida e o patrimônio de toda a população gaúcha. Isso é o que a sociedade espera e merece de nós: que todos os militares encontrem o ambiente e o treinamento necessários para cumprir suas missões e estejam prontos para atuar em qualquer situação”, afirmou o comandante-geral.
Com informações: Fernando Kopper
Fonte: Governo do Estado do RS
